sexta-feira, 5 de junho de 2009

Umbanda e Candomblé

Autor: José Queid Tufaile

O Candomblé, ao desembarcar no País com os escravos, encontrou aqui um outro culto de natureza mediúnica, chamado "Pajelança", praticado pelos índios nativos em variadas formas. Em ambos os cultos havia a comunicação de Espíritos. Os jesuítas, incumbidos de "doutrinar" os índios e depois o negro, proibiram que estes últimos cultuassem seus "deuses" pátrios. Naquela época não havia liberdade religiosa. Os escravos, por não terem outra alternativa (os açoites falavam alto), construíam altares com imagens e gravuras dos santos do catolicismo. Nas práticas exteriores, chamavam-nos segundo a vontade dos padres, mas em sua intimidade associavam essas imagens aos orixás que evocavam fervorosamente. Era a única forma de continuarem com suas crenças de origem. Formou-se assim o "sincretismo religioso", ou seja, a associação entre o orixá e o santo da Igreja Católica. Os rituais eram realizados naturalmente nos terreiros das senzalas.

Com o tempo, alguns terreiros começaram a misturar os rituais do Candomblé com os da Pajelança, dando origem a um outro culto chamado "Candomblé de Caboclo". Naturalmente, os Espíritos que se manifestavam eram os de índios e negros, que o faziam com finalidades diversas.
Do Candomblé primitivo, restou um tronco original que continuou fiel a suas raízes e que ainda hoje é a melhor linhagem de terreiros na Bahia e outros Estados do país.

O Candomblé de Caboclo, porém, degenerou-se na prática de baixa magia, conjuros, Canjerê, Catimbó, macumba e Quimbanda. Uma mistura de cultos que precisava sofrer a ação do progresso mas que não poderia ser pela influência da Doutrina Espírita, pois sua natureza abstrata e totalmente despida de rituais, afastava-a de tudo o que os praticantes dessas variantes do Candomblé estavam habituados.

Em 1908, por vontade dos Espíritos superiores, criou-se um movimento espiritualista, destinado a fazer progredir aqueles cultos primitivos nascido do Candomblé. Por meio do médium Zélio Moraes e do Espírito de um padre, chamado Gabriel Malagrina, na cidade de Niterói, Estado do Rio de Janeiro, nasceu a Umbanda cristã, bem brasileira.

O trabalho desse Espírito deu origem a uma linhagem de terreiros onde não se faziam rituais de sacrifícios, não se olhava sorte; os trabalhos tinham disciplina, com hora para começar e terminar; os adeptos eram convocados ao estudo do Evangelho de Jesus e a fazer a "caridade" junto do povo sofredor. Esse culto deveria misturar-se na mentalidade dominante dos terreiros já existentes, enfraquecendo-a aos poucos quanto ao primitivismo e fazendo esses trabalhos progredir no mundo das idéias. Segundo Frei Malagrina, a Umbanda seria a manifestação do Espírito para a prática da caridade.

Ao contrário do Candomblé, a Umbanda admite a manifestação de Espíritos errantes, exatamente como no Espiritismo. Alguns terreiros fazem sessões de desobsessão e estudam as obras espíritas.

Umbanda é a religião dos negros iorubás na Bahia que consiste sobretudo em grandes festas aos orixás...

Quatro diferenças

Candomblé

Deuses: Orixás de origem africana. Nenhum santo é superior a outro. Não existe o Bem e o Mal, isoladamente.

Culto: Louvação aos orixás que “incorporam” nos fiéis, para fortalecer o axé (energia vital) que protege o terreiro e seus membros.

Iniciação: Condição essencial para participar do culto. O recolhimento dura de sete a 21 dias. O ritual envolve o sacrifício de animais, a oferenda de alimentos e a obediência a rígidos preceitos.

Música: Cânticos em língua africana, acompanhados por três atabaques tocados por iniciados do sexo masculino.

Umbanda
Deuses: As entidades são agrupadas em hierarquias, que vai dos espíritos mais “baixos” (maus) aos mais “evoluídos”(bons).

Culto: Desenvolvimento espiritual dos médiuns que, quando “incorporam”, dão passes e consultas.

Iniciação: Não é necessária. O recolhimento é de apenas um ou dois dias. O sacrifício de animais não é obrigatório. O baptismo é feito com água do mar ou de cachoeira.

Música: Cânticos em português, acompanhados por palmas e atabaques, tocados por fiéis de qualquer sexo.

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