sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Hoje é Dia de Cosme e Damião; conheça a história dos santos que protegem as crianças


Em algumas regiões do Brasil, é comum que pessoas saiam às ruas para distribuir doces e brinquedos para crianças no dia 27 de setembro.
É quando se comemora o Dia de São Cosme e Damião.
Os dois foram gêmeos médicos que passaram a vida ajudando os mais pobres sem cobrar nada. Eles são conhecidos como os protetores dos farmacêuticos, dos médicos, dos gêmeos e também das crianças.

Gêmeos eram meninos médicos
Há muito tempo, havia uma senhora sem filhos. Vivia cercada de riqueza, mas sentia falta da alegria das crianças. Durante um ano, nos dias pares, ela subiu a uma montanha e fez orações pedindo a Deus a graça de ter filhos. Seu desejo foi realizado e, no dia 27 de setembro, nasceram dois meninos, gêmeos idênticos, a quem ela chamou Cosme e Damião.
Aos 7 anos, Cosme e Damião já exerciam a medicina e faziam muitas curas. Não cobravam para atender os doentes e ofereciam doces para diminuir a tristeza deles. Os médicos do reino, que exploravam os pobres, não gostavam daquilo, e a notícia chegou ao imperador. O rei mandou persegui-los. Mas até os 17 anos Cosme e Damião continuaram curando o povo das doenças e não foram capturados.

Filho do rei adoece
Certo dia, o filho do imperador ficou doente e foi desenganado pelos médicos do reino. Sabendo que o menino ia morrer, o rei mandou que seus soldados fossem buscar Cosme e Damião. Os soldados acharam os dois médicos vestidos com uma roupa muito linda, azul e cor de rosa, com algumas folhas de palmeira na mão. Imediatamente levaram os gêmeos até o imperador. Cosme e Damião conseguiram o que parecia impossível, devolveram a saúde ao menino.

O pagamento pela cura
Depois da cura, o imperador ordenou aos jovens que usassem seus dons apenas para ele e que o adorassem como a um deus. Cosme e Damião responderam que só reconheciam Jesus Cristo como Deus e que seus conhecimentos eram para ajudar o povo.
O rei não gostou da resposta e mandou torturar os médicos, para que negassem sua fé. Como isso não aconteceu, ordenou que os dois fossem decapitados. A mãe dos gêmeos ergueu um altar em casa em homenagem aos seus filhos, enfeitando com flores e doces. As pessoas doentes que iam visitar o altar ficavam boas e, assim, Cosme e Damião se tornaram santos.
Essa história [abaixo] foi contada por Maria José Gomes da Silva, 65, a Dona Zezinha, uma mãe de santo (sacerdotisa) do candomblé.

Os dois santos e candomblé
No candomblé, religião de origem africana, os orixás protegem as pessoas que acreditam neles. A religião diz que toda pessoa que tem santo também tem um erê, orixá menino. Os erês são confundidos com os ibejis, orixás meninos, sempre gêmeos. Os ibejis são cultuados na Nigéria, país com maior número de nascimento de crianças gêmeas no mundo.
A festa dos erês acontece na mesma época da dos santos católicos Cosme e Damião. É comum em vários lugares do Brasil oferecer caruru a Cosme e Damião. Além de caruru, feito com quiabo, há outras comidas, como xinxim de galinha, vatapá, acarajé, banana frita no dendê. Na festa, a comida primeiro é servida às crianças.

 Fonte: Folha de São Paulo

terça-feira, 24 de setembro de 2013

DUAS MULHERES, DUAS VIDAS: UMA HISTÓRIA: A UMBANDA DO PARANÁ!

De acordo com nossos levantamentos, a história da umbanda no Paraná começa com duas mulheres, a Senhora Eugenia Lopes de Oliveira (Tia Zizi – 1909 1994) e D. Amélia Guiraud ( 1904 1998).

Tia Zizi como era conhecida, gostava de ser tratada por “Cavalo de Pai João”, pois dedicou sua vida para que Pai João pudesse cumprir sua missão. Ela começou a incorporar o Preto Velho Pai João de Benguela aos 15 anos de idade, quando ainda morava na casa dos pais. Para tanto, eles afastavam os móveis do quarto dela e ali se realizavam os atendimentos. Após seu casamento com o Sr. José Orlandini Lopes, que era Maçom, iniciaram a construção do Templo Sol do Oriente. 

Em paralelo a história da Tia Zizi, estava D. Amélia, índia legítima nascida em Morretes. Ainda pequena foi adotada por um casal de alemães e cresceu em Ponta Grossa. Como desde cedo ela tinha muitas visões e ouvia vozes, os pais a colocaram num grupo chamado “Filhas de Maria”, buscando amenizar sua mediunidade latente. Ainda assim, ela continuava a ouvir vozes e então, já casada com o Sr. Hercílio Guiraud, começou a frequentar um Centro de Mesa Branca, onde os espíritos que se manifestavam identificavam–se como Dr. Leocádio, um caboclo e um Preto Velho.

Diante desta situação os dirigentes do centro recomendaram que ela fosse para o Rio de Janeiro, pois lá vinha ocorrendo um movimento umbandista onde essas entidades poderiam ser aceitas. Ela e o marido foram para o Rio de Janeiro como nos conta sua neta, Juciema Guiraud Ribeiro:

“... por causa das visões foram procurar como resolver isso, daí alguém indicou ela para um lugar no Rio de Janeiro e lá ela fez camarinha na umbanda, por volta de 1920, por volta de 40 dias de camarinha. E nessa camarinha se apresentou o Caboclo da Mangueira que era o orientador espiritual dela. E ela dizia que tudo que ela aprendeu sobre umbanda foi com o Caboclo da Mangueira.”

É no retorno para Curitiba que ela inicia os trabalhos no porão da sua casa, que ficava no Largo da Ordem. Somente então o espírito que se apresentava como Leocádio no centro de mesa branca se apresentou como sendo Exu Geribom, sendo sempre o Caboclo da Mangueira o orientador espiritual das atividades. Naquela época, a maioria dos trabalhos era de cura. Apesar de não terem atabaques havia os cânticos e palmas e, nesse período, como a repressão da polícia era grande, alguns filhos ficavam na calçada e caso avistassem um policial ou alguém suspeito, desciam e avisavam para diminuírem os barulhos.

AS VIDAS SE CRUZAM

Os maridos de Tia Zizi e D. Amélia (que eram maçons e estavam juntos na construção do Templo Sol do Oriente) conseguiram na Rua Clotário Portugal, um terreno triangular para a edificação do templo. Através da amizade dos esposos, a corrente mediúnica da D. Amélia se une à corrente da Tia Zizi, formando assim o Templo Sol do Oriente. Com as orientações do Pai João de Benguela o templo foi sendo construído, tendo em cima a loja maçônica e embaixo o templo de Umbanda. 

Em 20 de janeiro de 1942 então é fundado oficialmente o Templo Espiritualista Sol do Oriente, entretanto os estatutos do Templo só foram aprovados em Assembleia no dia 30 de Setembro de 1947 quando então é filiado à União Brasileira de Umbanda com diploma e gozo de todas as garantias Constitucionais. Segundo os estatutos do Templo nada era feito sem autorização do Pai João de Benguela e também ele tinha a palavra final sobre qualquer assunto tanto na Loja quanto no Templo, sendo assim não existia contestação.

Os trabalhos no Templo Espiritualista eram realizados duas vezes por semana onde somente a Tia Zizi, D. Amélia e poucos médiuns trabalhavam incorporados sob a chefia do Pai João de Benguela, incorporado na Tia Zizi. A grande maioria dos médiuns participava da corrente dando firmeza, sem incorporar, mas, mesmo assim, demonstrando muita seriedade e devoção. O Templo consistia em uma área construída onde os atendimentos eram realizados e um espaço de chão batido atrás do Congá ao qual somente alguns médiuns tinham acesso.

Em 24 de junho de 1947 é feito o lançamento da pedra fundamental do templo e toda a construção da loja maçônica é realizada por um arquiteto com a orientação do Pai João de Benguela. A inauguração ocorre em 15 de julho de 1952 funcionando ali desde então, na parte de cima a Loja Sol do Oriente e na parte de baixo o Templo Espiritualista Sol do Oriente.

A SEPARAÇÃO

As duas trabalharam juntas no Templo Sol do Oriente até 1951, quando D. Amélia fundou a “Tenda Espiritualista de Yemanjá” (fundado em 23/06/1951, segundo o site da A.M.E.M) onde trabalhou por três anos sob orientação do Caboclo da Mangueira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossa pesquisa buscou focar, principalmente, nas figuras que desenvolveram uma prática religiosa coerente com os ideais que consideramos verdadeiros para a Umbanda. Não são poucos, ainda hoje, os centros que se autodenominam Umbandistas, porém, seguem práticas longe daquelas baseadas na caridade, bondade e compaixão da mensagem original do Caboclo das Sete Encruzilhadas. 

Obviamente outros fenômenos mediúnicos ocorriam na capital paranaense. Uma pesquisa não muito criteriosa em jornais, federações e ocorrências policiais do período dão conta de que centenas de centros praticavam rituais parecidos e até nominados de Umbanda. Não apenas isto, mas também Candomblés, Catimbós e centros Kardecistas começavam a surgir na Curitiba de meados do século XX. 

Ainda, no tocante à Umbanda praticada em Curitiba nos dias atuais, grande é o número dos centros nascidos da dedicação e amor à espiritualidade demonstrada por essas duas mulheres.

Apesar de parecer estranha a ligação tão estreita entre a umbanda do Paraná e a maçonaria, nos foi lembrado que a maçonaria tem três colunas de trabalho: Sabedoria, Força e Beleza e as três colunas da umbanda são: Preto Velho, Caboclo e Criança. E onde elas se unem? A Sabedoria do Preto Velho, a Força do Caboclo e a Beleza da Criança.

Em cada região do país a umbanda foi inserida dentro do contexto social da época. Em Curitiba a maçonaria era a grande força que poderia dar respaldo para o inicio dos trabalhos de forma ampla e sem perseguição policial, pois os grandes nomes da sociedade estavam dentro da maçonaria e esses dentro do Templo Sol do Oriente.

Com relação as incorporações, o que pudemos observar é que naquele período os médiuns afirmavam ser praticamente inconscientes e segundo os relatos todos se dedicavam muito à umbanda. Durante as entrevistas e conversas com o Sr. Ubiratan da Silva (médium do Templo Sol do Oriente da década 80) e a neta da D. Amélia, Sra. Juciema Guiraud Ribeiro, algumas coisas nos marcaram muito e transcrevemos abaixo as frases conforme escutamos:

“A Tia Zizi já fazia alguns anos que não trabalhava mais com o Pai João. Mas tem essa história para os novos umbandistas entenderem o que é ser umbandista e o significado da missão que a gente assume quando a gente entra em um terreiro. Ela já fazia algum tempo que tinha problema nas pernas. Ela nunca andou de muleta, mas ela tinha dificuldade de andar. Ela só andava apoiada. E ninguém conseguia fazer com que ela ficasse em casa. E eu por um bom período, saía do meu trabalho (que o trabalho começava lá às 20h00, e tinha uma pequena indústria em Pinhais e eles moravam na Vila Guaira) ia em casa, nós pegávamos a Tia Zizi, colocávamos em uma cadeira, levávamos ela de cadeirinha até o carro. Colocávamos ela dentro do carro, chegávamos na frente do templo, tirávamos ela da cadeirinha e levávamos ela até dentro do terreiro. E ela ficava lá no cantinho dela, do lado do altar até terminar o trabalho. E quando terminava 00h00 era cedo. Mas ela não abria mão de estar presente.” (Sr. Ubiratan da Silva)

“Duas coisas que aprendi com a minha avó e ela dizia que tudo que ela aprendeu de Umbanda foi com o Caboclo da Mangueira”:

1) “Cobrou fuja, FUJA, não pergunte por que nem nada, simplesmente fuja.” 

2) “Chamou tem que atender, não importa a hora, nem quem e nem aonde. Tem que atender. Precisou, vai.” (Sra. Juciema Guiraud Ribeiro).

Um dos participantes do Templo Sol do Oriente foi o Sr. Edmundo Rodrigues Ferro que, ao sair do Templo, fundou a Tenda São Sebastião, aonde o Pai Fernando de Ogum teve seu primeiro contato com a umbanda e de onde saiu para fundar o Terreiro do Pai Maneco, nossa casa aonde a Umbanda simples ainda é praticada.

 

Pesquisa: Grupo de pesquisa em História da Umbanda no Paraná: Denise Freitas de Oliveira, Caroline Novak, Paulo Braz e Edgar Cavalli Junior. 
Texto: Denise Freitas de Oliveira e Edgar Cavalli Junior