segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Caboclos, Africanos e Kardecistas

O texto abaixo é de Lourenço Braga, um dos pioneiros na literatura Umbandista, publicou em 1942 o livro “Umbanda e Magia Branca – QuimbandaMagia Negra”. Coloco abaixo uma passagem deste título, que nas palavras deste autor, faz confirmar que se trata de uma discussão antiga e atual, fundamental desde os primórdios da religião. Afinal com relação a alguns assuntos pouca coisa mudou na Umbanda ou melhor na sociedade, conquistamosalgum espaço mas continuamos com algumas síndromes e vivendo, ainda, odesconforto da ignorância, por conta de boa parte da população que desconhece que a Umbanda seja uma Religião Brasileira e que seu objetivo maior é o Beme a “Manifestação do Espirito para a pratica da Caridade”, como bem definiu Zélio de Moraes, O Pai da Umbanda, o Primeiro Umbandista. Creio mesmo que se deveria ensinar nas Escolas “História das Religiões” ou “Teologia Comparada”, para que, sem “catequisação”, doutrinação, se tivesse um mínimo de informação sobre religiões num contexto geral e sobre as religiões afro-indigenas num contexto especifico, e Umbanda para ser mais especifico ainda. Sem esquecer de Xamanismo, Feitiçaria, Pajelança, magia e etc. (Comentário feito por Alexandre Cumino)

“Trecho de um artigo que publiquei (Lourenço Braga) na “A Vanguarda” do dia 11 de março de 1941, em resposta a um outro artigo onde um conforme Kardecista dava a entender que o espírito caboclo ou de africano não podia ser guia nem protetor de médiuns ou de Centros”.
Deus, a Natureza, o Absoluto, enfim co­mo queiram entender, é, como todos sa­bem, sumamente justo, bom miseri­cor­dioso, onipotente, onisciente, etc,etc. Dito isto pergunto agora aos senhores Karde­cistas – qual a condição para um espírito ser guia ou protetor? Todos responderão naturalmente: Ter luz! Pergunto: Qual é a condição para um espírito ter luz? Todos responderão: Ter virtude, isto é, ser sim­ples, bom, carinhoso, humilde, piedoso, etc, e não ter ódio, inveja, orgulho, ciú­me, maldade, vaidade,avareza, etc. Pergunto ainda: Ter virtudes é privilégio da raça branca? Se é privilégio, então che­gamos ao absurdo de admitirmos Deus como sendo injusto por ter criado uma raça privilegiada. Se, porém, não é pri­vilégio dascriaturas da raça branca, pois que Deus é sumamente justo, poderão, portanto, as criaturas das outras raças possuir virtudes também e assim,d epois de desencarnada, ter luz e ser guia ou protetores de pessoas ou Centros.

É preciso não confundir luz intelectual com luz provinda da evoluçãoespiritual, bem diferente uma da outra!

Digo mais, um espírito reencarna-se numa tribo de caboclos ou de selvagens africanos, como missionário, isto é, para levar àqueles no meio dos quais reen­car­nou, uma certa soma de conhecimentos. Quan­do ele desencarnar é um espírito de luz, porquanto luz bastante já possuía, tanto que reencarnou como missionário e nin­guém poderá dizer que ele não foi africano ou caboclo em sua ultima reencarnação.

Sabem muito bem todos os Kardecistas que os espíritos tomam a forma que querem e assim sendo, nada impede que os espíritos de luz, por afinidade, se agrupem em fa­langes para praticar o bem e tomem a forma de caboclos, africanos, etc, ou para pra­ticar o mal, se forem inferiores, e tomem aforma de bichos e outra qualquer.

Como sabeis a Terra é um planeta de trevas, expiações e sofrimentos e nós que aqui habitamos estamos sujeitos a sofrer as conseqüências do meio, mesmo porque somos imperfeitos, assim sendo, o mal predomina neste planeta e dessa forma no meio ambiente terreno, existem ca­madas fluídicas pesadas, formadas umas pelos nossos pensamentos e outras pelos fluídos dos espíritos sofredores e trevosos.

Justamente para combater o mal e dissipar as camadas densas de fluidos pesados, e mais ainda, para encaminhar os irmãos desencarnados que seacharem mergulhados em trevas ou sofrimento, é que uma grande quantidade de espíritos já evoluídos agruparam-se em falanges, por afinidades, e tomaramas formas hu­mildes de caboclos, africanos e outros ma­is, notando-se que possuem luzes de variadas cores, tais como sejam: roxa, rosa, alaranjada,verde, dourada, pratea­da, amarelas e outras intermediárias, sendo que oschamados espíritos quimbandeiros possuem luz vermelha.

Texto extraído do livro “Umbanda e Magia Branca – Quimbanda Magia Negra” deLourenço Braga -Edições Spiker – 1942.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Um esclarecimento sobre os pontos cantados dentro do ritual de Umbanda


POR FERNANDO SEPE

Um dos elementos mais interessantes dentro da liturgia umbandista, são os pontos cantados. Além de serem lindos, eles têm funções importantíssimas dentro do ritual, fazendo - se presente em todas as reuniões de Umbanda. Muitas definições e funções são dadas aos pontos e às vezes algumas pessoas fazem uma pequena confusão. Também, o modo como serão executados e o uso dos atabaques ou não, geram ainda muitas discussões dentro da Umbanda. Tecerei alguns comentários que espero sirvam para elucidar um pouco essas questões.

Primeiramente, existem muitas definições sobre os pontos cantados. Na maioria das vezes veremos respostas dizendo que os pontos são "mantras" ou "prece cantadas" e que são utilizados para "chamar os guias". Vejamos:

Mantra vem do sânscrito da raiz mana (mente) e tra (controle). São palavras ou sílabas que normalmente são repetidas metodicamente (oralmente ou mentalmente) e através desses mantras tanto controla - se a mente como sintoniza - se com a força evocada no mantra, ativa – se um chacra, etc. Portanto podemos ver que o mantra tem algumas funções específicas análogas ao ponto cantado, mas atua a partir de uma mecânica diferente. O ponto também atua como forma de controle da mente, notavelmente na dos médiuns, que a partir dos cantos concentram - se no trabalho a ser realizado. Além disso, os pontos ajudam a sintonização com os guias, "direcionando" a mente dos médiuns a determinadas sintonias. Também quando vibrados com amor, ajudam na ativação dos chacras, notavelmente o cardíaco, o laríngeo e o frontal, facilitando o uso das faculdades anímicas - mediúnicas.

Prece vem do latim "precari" e significa rogar, pedir com seriedade, suplicar, etc. A prece podemos definir como uma "conversa" dirigida a seres da espiritualidade superior e Deus. Novamente essas características estão presentes nos pontos cantados, onde louvamos, pedimos, agradecemos e endereçamos nosso amor aos guias e mentores através dos cantos.

Mas, os pontos também são verdadeiras determinações de magia, onde movimentamos forças afins com o trabalho, além de direcionarmos essa energia para algum trabalho específico a ser realizado, como, por exemplo, os pontos de corte de demanda, os para trabalhos de cura, etc.

Concluímos então, que os pontos cantados são simplesmente pontos cantados! Mantras, preces e determinações têm funções análogas a eles e são fantásticos, mas têm uma mecânica e sentidos diferente de serem realizados. Podem e devem ser estudados e praticados, mas não confundidos com os pontos.

Além das funções descritas anteriormente, temos outras como: a ajuda que os pontos dão para a organização do ritual do trabalho onde eles auxiliam para a manifestação mediúnica ordenada. Claro que os pontos na verdade não chamam os guias, pois eles já estão na casa antes mesmo do trabalho começar, mas sim, fazem com que o ritual prossiga de forma equilibrada e serve de comunicação entre o dirigente espiritual com os médiuns. Também temos interação que os pontos fazem entre a assistência que através dos pontos sentem - se mais acolhidos dentro da casa e, principalmente, a mudança de estado íntimo que um ponto pode ocasionar. Às vezes estamos tristes e basta uma música que faça nos lembrar de algo legal ou bonito em nossas vidas, ou uma bela canção para nos elevarmos, mudarmos nossos sentimentos e pensamentos, melhorando assim conseqüentemente a nossa energia pessoal. Talvez essa seja a maior das magias realizadas pelos pontos cantados.

Passando agora para a questão dos atabaques. Muitas críticas são feitas ao uso do atabaque, a mais comum diz que os atabaques favorecem o animismo. Novamente é necessário um pouco de discernimento sobre a questão. Animismo vem do latim - animus que quer dizer alma, portanto quando diz - se que a incorporação "foi puro animismo" quer dizer que não houve influência de espírito, mas sim a própria pessoa produziu a incorporação em sua mente. Diz - se então que o atabaque gera uma "euforia", "empolgação" e o médium sai "rodando e girando" por puro embalo dos atabaques. Realmente isso pode acontecer, como acontece! Mas ocorre mais por uma falta de orientação do médium, do que pelo uso do atabaque. Querem melhorar o problema do animismo? Então incentivem os estudos espiritualistas de mente aberta e que elevam a consciência. Parece - me que colocar a culpa no atabaque é como "tampar o sol com a peneira", além de uma tentativa de "evangelizar e espiritizar" a Umbanda a moldes kardecistas, ou como no caso de algumas escolas ditas iniciáticas de Umbanda que tentam, abolindo os atabaques, desvincularem a Umbanda de qualquer influência africana...

A verdade é que os atabaques são instrumentos que se bem utilizados potencializam ainda mais o ponto cantado. A curimba torna - se um verdadeiro pólo irradiador de vibrações e forças que são direcionadas para o bem do trabalho. Os instrumentos de percussão criam verdadeiras ondas diluidoras e desagregadoras de energias, formas pensamentos negativas e às vezes até chegam a realizar uma desobsessão. Qualquer clarividente razoável, ou pessoa com experiência em terreiro seja médium, cambone, etc pode relatar o que é dito aqui. Na parte mediúnica o uso de atabaques também é extremamente positivo, pois além da aumentar o efeito de concentração do ponto cantado, também atuam diretamente sobre os chacras dos médiuns, sobre sua aura, auxiliando a incorporação, além de as "batidas" compassadas atuarem nas ondas cerebrais as influenciando e levando a estados alterados de consciência. Os xamãs de todo mundo utilizam - se de tambores com essa finalidade. Claro que existem casas onde não existem pessoas preparadas para tocar atabaque. Nesse caso é melhor não toque - se atabaque e apenas utilize - se do canto. Mas quando alguma pessoa preparada e afim com o trabalho da casa aparecer, o atabaque pode ser introduzido dentro do ritual dela. Sempre respeitando a importância do devido preparo e afinidade entre o atabaqueiro e a casa.

Finalizando, aqui foram descritos de forma bem resumida alguns aspectos dos pontos cantados. Espero que possa ter sido claro e tenha fornecido informações úteis para melhor compreensão desse fundamento maravilhoso da religião de Umbanda.

Abraços a todos

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Saudação ao Pai Oxalá


MEU PAI OXALÁ,
OBRIGADO MEU PAI QUE BOM
AS VOLTAS DO TEU ABRAÇO,
SÃO LAÇOS DE LUZ E SOM
MEU PAI OXALÁ
EU SEI QUE ESTÁS EM MIM
NAS DORES DA ILUSÃO,
NA FORÇA DO NÃO E O SIM
PEÇO AGORA TEU AMOR,
NESTA HORA DE ESPERANÇA
PRA SER LIVRE COMO A FLÔR,
SER ADULTO E SER CRIANÇA
ABENÇÔE A TODOS NÓS
NOSSOS PAIS, NOSSOS AVÓS
NOSSOS FILHOS E PARENTES
NOSSAS VIDAS TÃO CARENTES

MEU PAI OXALÁ
ÉS TUDO NA CRIACÃO
IGUAL TEU PODER NÃO HÁ
ME CURA ME DÁ TUA MÃO

PEÇO AGORA TEU AMOR
NESTA HORA DE ESPERANÇA
PEÇO AGORA SEU AMOR......BIS


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OXALÁ, O ORIXÁ DA CRIAÇÃO
Na Umbanda, Oxalá representa o mais alto na hierarquia dos Orixás, tendo como contraparte nosso Mestre Jesus, o médium supremo. Nos pontos riscados é representado por uma estrela de cinco pontas.
Como Orixá na Umbanda, Oxalá se apresenta sob três formas:
OXAGUIAN: o Oxalá Menino, que é sincretizado com o Menino Jesus de Praga.
OXALUFAN: o Oxalá Velho, sincretizado com Jesus no Monte das Oliveiras.
OXALÁ: sincretizado com Jesus Cristo.
Tanto na Umbanda quanto no Candomblé é de Oxalá a tarefa de criação da Humanidade. Por isso a equivalência a Jesus, manifestação máxima de Deus trino: Pai, Filho, Espírito Santo. Além de responsável pelo molde dos primeiros seres humanos na Terra, é considerado também o criador da cultura material. Oxalá é representado nos Congas por Jesus e é a autoridade suprema na Umbanda. É ele quem ordena aos Orixás que venham ajudar seus filhos por meio dos Guias e Mensageiros que vêm em Terra.
Sua imagem é a de Jesus Cristo, sem a cruz e sua cor é branca.
Oxalá é considerado o Orixá maior na Umbanda, porque é capaz de atuar em todos os elementos e vibrações através dos outros Orixás.
Éter e Luz: são o elementos e a força da Natureza correspondentes à Linha de Oxalá.
Dia da Semana: Sexta-feira.
Vibração: atua no chacra coronário.
Cor: Branca, com raios dourados.
Cores da Guia: Contas brancas leitosas.
OXALÁ NOS CULTOS AFRO-BRASILEIROS
O mais importante e elevado do Panteão lorubá; foi o primeiro Orixá criado por Olorum (O Deus supre­mo). E um dos Orixás Fun-Fun (da cor branca). São muitas as suas lendas e extensa sua origem e história na África. No Brasil, são mais conhecidos Oxalufan o velho e Oxaguian o moço. Na sua forma guerreira, Oxalá carrega uma espada, cheio de vigor e no­breza; na condição de velho e sábio, curvado pelo peso dos anos, é uma figura nobre e bondosa que carrega um cajado, o Opaxorô, de forte sim­bologia, utilizado para separação do Orun (o Céu) e o Ayié (a Terra). No Brasil é o mais venerado e sua maior festa é uma cerimônia chamada Águas de Oxalá, que diz respeito à sua lenda dos sete anos de encar­ceramento, culminando com a cerimônia do Pilão de Oxaguian, para festejar a volta do Pai. Esse respeito advém da sua condição delegada, por Olorum, da criação e governo da Humanidade.
CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE OXALÁ
Os filhos de Oxalá são pessoas tranqüilas, que tendem à calma até nos momentos mais difíceis. São amáveis e pensativos, mas não cos­tumam ser subservientes. São articulados, reservados e às vezes muito teimosos, sendo difícil con­vencê-los de que estão errados na resolução de um problema. Em Oxalufan, o Oxalá mais velho aparece com a tendência para o debate e a argumentação.
A LENDA AFRICANA
Orixalá ou Obatalá foi encarregado por Olorum de realizar uma grande e importante tarefa: a da criação do mundo. Para isso, recebeu de Olorum o Saco da Criação. Mas antes de iniciar sua viagem para o cumprimento da mis­são era necessário que Oxalá realizasse oferendas para Bará. Mas, com seu caráter um tanto orgulhoso, não o fez. Iniciou então sua caminhada, e, ao chegar à porta do além, encontrou Exu-Bará, fiscal das comunicações entre os dois mundos. Ao saber que o Grande Orixá não havia feito as oferendas, fez com que ele sentisse muita sede durante a caminhada. Oxalá não teve outra saída senão tomar o líquido refrescante que escorre do dendezeiro o vinho de palma. Com isso ficou bêbado, perdeu o rumo e adormeceu. Veio então Odudua, criado depois de Oxalá, e, vendo-o adormecido, roubou-Ihe o Saco da Criação e levou até Olorum, que disse: Vá você Odudua, vá e crie o mundo. Odudua encontra uma grande extensão de água e deixa cair o conteúdo do Saco da Criação a terra; formou-se um monte que ultra­passou as águas. Odudua colocou sobre o monte de terra uma galinha de cinco patas, que espalhou a terra sobre as águas. A terra foi se alargando cada vez mais criando a cidade de llê-lfê. Quando Oxalá acordou e não encon­trou o Saco da Criação procurou Olo­rum, que o castigou proibindo-o de beber vinho de palma e usar azeite de dendê. Como consolo, ordenou-lhe que moldasse no barro o corpo dos seres humanos, sobre os quais Ele, Olorum, sopraria a vida.
Fonte: Revista Espiritual de Umbanda Nº 12