A palavra sânscrita sramana significa: "Senhor do Êxtase" ou "Homem inspirado pelos espíritos" - usada para definir aquele que se dedica ao curandeirisco, alquimia, filosofia, astrologia, meditação, yoga, sacerdócio, mediunidade, exorcismo e que passa a ser o interlocutor entre homens e Deuses, uma ponte entre o visível e o invisível.
A organização do clero xamânico difere ligeiramente nas diferentes culturas e tribos.
Existem vários tipos de xamãs de diversas tradições. Na maioria das vezes este é um oficio hereditário. Contudo, para todas as tradições xamânicas o dom sobrenatural é uma qualificação necessária para que alguém se torne um xamã.
Antigamente, existiam os xamãs familiares, ou clânicos e os xamãs profissionais, de carreira. Atualmente, o Xamanismo clânico está perdendo terreno e tendo uma grande tendência de ser substituído pelo Xamanismo individual. Encontraremos ainda muitos xamãs profissionais mais a grande tendência mesmo é que o Xamanismo torne-se presente em nosso dia a dia como um estilo e filosofia de vida ou mesmo um estado de espírito de total contemplação e adequação à natureza.
Enfim, ainda que a histeria constitua a base da vocação xamânica, ao mesmo tempo o xamã difere de um paciente comum que sofra dessa enfermidade. Ele possui um enorme poder de autocontrole, praticado durante o período de ataques convulsivos que ocorrem durante algumas cerimônias. Um bom xamã deve, essencialmente, possuir muitas qualidades incomuns, diferentes das utilizadas em seus trabalhos espirituais, mas a principal mesmo é o Poder - adquirido mediante rigoroso autocontrole e de conhecimento - de influenciar as pessoas à sua volta. Sua atitude às vezes reservada exerce, sem dúvida, grande influência sobre as pessoas com quem convive. Ele deve saber como e quando ter seu "surto de inspiração" o qual, às vezes, chega ao desvario (delírio). Deve, igualmente, saber preservar sua postura, tão altamente venerável, mesmo nos fatos mais triviais do cotidiano.
Agora, sendo esse chamado hereditário ou não, o que importa é que um xamã deve ser, antes de tudo, competente, uma pessoa inspirada. É claro que isso é o mesmo que dizer que ele é irrequieto e exaltado, muitas vezes no limite da insanidade. Contanto que ele pratique sua vocação, o xamã nunca ultrapassa esse limite. É costume acontecer de, antes de a pessoa ouvir o chamado de sua vocação, seja ela através de um mestre (transmitindo seus conhecimentos), hereditário (quando um descendente de um xamã demonstra disposição e vocação para o chamado), sonho (muitas vezes quando um xamã já falecido aparece em sonhos e intima o sonhador a tornar-se seu sucessor) ou até mesmo por pura vontade (na verdade ninguém se torna xamã por livre e espontânea vontade, pelo contrário, isso chega a ele, quer ele queira ou não) sofrer sérios ataques nervosos e/ou problemas espirituais.
"Eu mesmo já soube de casos que pessoas, quando estavam próximas a se tornarem xamãs, sofrerem surtos de paroxismo selvagem, alternados com períodos de completa exaustão. Eles podiam ficar paralisados por dois ou três dias, sem ingerir qualquer alimento ou bebida. Por fim, abandonavam a incivilidade, na qual passaram tanto tempo suportando fome e frio, a fim de se prepararem para o chamado."
Ser convocado para se tornar um xamã equivale, geralmente, a ser atormentado pela histeria. Então, a aceitação do chamado significa restabelecimento. Para aquele que acredita mesmo, crê fielmente, a aceitação do chamado significa acolher espíritos - ou pelo menos um - como seus guias, mentores, protetores ou servidores, ou seja, o xamã passa a ter comunicação direta com todo o mundo espiritual. A convocação xamânica às vezes, se manifesta através de um animal, planta ou algum outro objeto natural que a pessoa encontra no momento certo - com freqüência durante o período crítico da infância e a maturidade - ou também quando uma pessoa de idade mais avançada é atormentada por problemas mentais e físicos. Todavia, não se espera que pessoas muito velhas possam estar à altura de uma convocação do Xamanismo. Para a maioria de nós, muitas vezes é uma voz interior que convida a pessoa a entrar em contato direto com os espíritos. Se a pessoa negligenciar e não atender ao chamado de imediato, o espírito convocador, em breve, aparecerá sob uma forma externa visível, comunicando o chamado de uma maneira mais explícita.
E quando a pessoa recebe o chamado ela passará então a ser treinada, ela não deverá se preocupar com seu futuro, o mundo espiritual virá em sua direção, trazendo o mestre na hora em que o discípulo estiver pronto. Grande esforço e dedicação serão necessários. Paciência e tolerância também.
Autor: Akaiê Sramana
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