quinta-feira, 14 de maio de 2009

Magia, xamanismo e bruxaria - Caminhos Naturais (parte III)

O conceito de Divindade.

É muito importante, a meu ver, percebermos como o conceito que temos de divindade interfere muito na forma de sentirmos e percebermos o mundo.


Recebemos uma educação religiosa vinda do meio onde fomos criados, isso acontece numa fase bem imatura da percepção. Na maior parte das vezes aprendemos a identificar conceitos complexos como inicio, criadores, poderes primordiais com projeções de nossas carências e medos.


Na maior parte de nós os conceitos religiosos vieram de nossos pais e a igreja a qual estavam ligados. Mas esses conceitos têm uma historicidade, foram gerados por situações diversas, por grupos que em sua luta pelo poder não tiveram receio de alterar e deturpar conhecimentos, desde que continuassem no poder.


Estes dados são importantes para melhor compreendermos o deus único, que é tido como evolução quando os uga-uga primitivos deixaram de ser politeístas e evoluíram para o nível monoteísta. Será real isso? Os povos ancestrais sentiam a divindade em tudo, suas várias faces, na chuva, no vento, no trovão, na Terra que dá o alimento, no Sol, na Lua, era o um manifesto no múltiplo.


É muito importante compreender isso, pelos meus estudos e contatos com tradições nativas tenho notado que o saber ancestral se manifesta em matrizes com muitas dimensões, então podemos ter um povo que tem um conhecimento em comparação com o nosso, menos sofisticado em alguns aspectos, como os Maias que não usaram as rodas, mas que em outros níveis podem extrapolar muitos de nossos limites, como os já citados Maias e sua matemática com nove dimensões , seus calendários exatos e tudo mais.


Assim o conceito de divindade nos povos ancestrais era bem amplo e variado, não podemos limitar o pouco que sabemos das crenças de algumas partes da população como o todo da forma de lidar com tais realidades, por parte desses povos. O cidadão simples, o comerciante, o homem e a mulher do povo egípcio com certeza tinham uma concepção da divindade bem diferente dos sacerdotes e sacerdotisas dos templos e das escolas iniciáticas que ali existiam.


Da mesma forma entre todos os povos vamos ter o exoterismo religioso, as crenças e cultos de domínio público e o esoterismo, reservado a quem fosse iniciado nos mistérios. Os povos ancestrais lidavam com as várias faces da ETernidade, em suas multiplas manifestações. Mas pegar um deus tribal de um povo e elegê-lo deus único é evolução? Um deus único que sendo de fora da terra, a regendo de fora não inspira nenhuma atitude ecológica ou equilibrada, coisa que acontece com os povos nativos e suas superstições. Quando falamos deus o conceito de deus é algo muito complexo. Quando falamos de um deus criador estamos num paradigma e em minhas investigações sobre estes caminhos que estamos estudando encontrei um conceito diferente, uma forma de falar da ETERNIDADE sem limitá-la a padrões antropomórficos ou fazer da mesma uma tela onde projetamos carências e medos.


Ao invés de um deus que cria, de fora, depois cria testes além da capacidade dos testados e depois os castiga, os deixa confusos, ao invés de uma família primordial onde o homem é um fraco, a mulher é uma que vai atrás da primeira serpente que aparece, um filho é assassino e tudo dá tão errado que destrói tudo e começa de novo, existem outras histórias de como o mundo veio a ser o que é .


Existem cosmogonias, antropogêneses e cosmogêneses que abordam outras possibilidades, um universo que emana, que surge de uma outra realidade pré-existente, num ciclo infindável. É interessante observar que quanto mais avança a astrofísica e a física de partículas, mais as visões de realidade que surgem dos experimentos realizados, são similares as visões dos antigos mitos, dos povos ancestrais e pouco relacionadas com as histórias moralistas que nos ensinaram na religião oficial. Um só deus, uma só verdade, um só rei , foram argumentos sempre usados pelos tiranos de várias épocas.


Perceber isso é perceber que a abordagem religiosa da realidade tal qual a concebemos hoje está ligada a conversão, basta ver o fervor com que vários homens e mulheres matam outros em vários países do mundo em nome de suas crenças. Interessante a intolerância religiosa, ela não admite a diversidade, todos devem se reduzir a uma nauseante homogeneidade. Como se as células do fígado resolvessem converter as células do coração a serem como elas e depois de cumprida sua missão teríamos um corpo com dois fígados, mas que morreria em seguida, sem o coração que bombearia o sangue.


Esses são os perigos da conversão, o fato de surgir de povos gananciosos e desrespeitar o fato que a diversidade sempre foi necessária à vida. Somos seres que fazemos parte de um vasto esquema cósmico. Estamos na periferia da galáxia, estamos num lugar que indica que somos novos e imaturos se comparados com formas de vida que já se desenvolveram bilhões de anos antes de nós. Mas temos nosso papel.


Assim o que julgo errado e fora de propósito para mim, pode ser justamente o papel que outra pessoa deve desempenhar. Este é um perigo dos pseudos agrupamentos iniciáticos, a vontade caprichosa de um (a) pseudo líder é seguida, isto falseia tudo. O trabalho de um grupo é que cada um desperte sua essência que se torne o mais profundamente o que trás em seu interior, quem auxilia nisso deve agir como um jardineiro, ajudar a desabrochar, nunca impor seus próprios modos.


Essa diferença sutil nos leva ao cerne deste trabalho: A concepção de divindade. Se imponho a quem aprende minha forma de perceber este algo transcendente que de fato existe, vou estar limitando a um conceito, a um dado informacional, mas se crio situações para que quem aprende vivencie por si mesmo então teremos outro tipo de aprendizado. Por isso é difícil colocar em palavras o que vai além das palavras. Palavras vêm do racional, do arquivo da memória, do já vivido. E o novo é não vivido, tem que surgir pela experiência. Assim, cientes da limitação das palavras, da sintaxe, vamos ainda assim abordar o fato que a percepção da divindade e da vida por parte dos caminhos naturais, dos caminhos pagãos, dos caminhos mágicos obedece a outra profundidade.


Temos quando crianças, sempre a presença de um adulto por perto. Qualquer perigo e um adulto virá nos proteger, nos salvar. Ao crescermos descobrimos que tal salvamento é relativo e papai e mamãe são crianças como você. Isso muda tudo e surge uma carência aí, que grande parte ao invés de superar extrapola e cria um papai do céu e uma mamãe do céu . Os messianismos diversos tem aí uma de suas raízes, a crença que alguém lá fora virá nos salvar.


Para grande parte das pessoas é isso a divindade, uma transferência dos sentimentos confusos da relação com pai e mãe para uma pretensa entidade cósmica que nos criou e pode nos julgar, ajudar ou castigar.


Esta relação imatura com a realidade é ampla e notável nas religiões não pagãs, que centralizam seu poder numa divindade fora do mundo e temível. A divindade sempre existe, cria um mundo, cria os humanos, a sua imagem e semelhança. Não seria mais correto dizer que os seres humanos criaram um deus a sua imagem e semelhança?

A Bruxaria, a Magia e o Xamanismo aos quais me refiro não estão nessa linha. Tem a noção de seres, de forças, de entes, de poderes que vivem neste mundo e nos mundos além desse, mas mesmo os mais poderosos, são nitidamente entes, que podem parecer deuses e deusas, mas mesmo na proporção de uma estrela para uma vela não precisamos adorá-los, ou crer que os servindo vamos ter tudo resolvido.


Os deuses e deusas são entes amplos, podemos fazer parte deles, podemos ser como células das vastas realidades que eles e elas compõe, mas em todos os níveis são seres com começo e fim, entes que também brotaram em um certo momento da existência e vão chegar a um fim um dia. Como nós.


A DIVINDADE em seu sentido mais amplo é algo que extrapola a compreensão, é para ser sentida diretamente, experiência direta do numinoso, do que vai além do conceitual.

Por isso ao sentir a força de uma árvore, de uma montanha, de um rio ou do vento e expressar isso como divindades, com suas particularidades não pode ser confundida com uma abordagem supersticiosa da realidade.


Rezar com medo para deuses e deusas numa tempestade é diferente da postura pagã de reconhecer nestas forças se manifestando facetas da Amplitude e buscar encantar tais poderes.


A relação que temos conosco mesmo, a relação que temos com as outras pessoas, a relação que temos com o mundo circundante, tudo isso está envolto em nosso conceito de divindade. É interessante meditar sobre isso, perceber se ainda temos uma relação de pai psicológico ou mãe psicológica com a ETERNIDADE, se continuamos apenas projetando carências ou estamos mesmo começando a ir além dos medos que nos plantaram e ousando sentir a ETERNIDADE em toda sua incompreensível vastidão.


Para mergulharmos mais fundo nos temas Bruxaria, Magia e Xamanismo precisamos compreender que estes caminhos abordam a questão da Vida, da Divindade, de ter uma alma, de conseguirmos nos eternizar, tudo isso com outros paradigmas e não podemos cair no erro da moda esotérica em voga que pega os mesmos temas já gastos e nitidamente ineficazes e os fantasia com outras roupagens. Pecado agora é carma, outras vidas substitui céu e inferno, os ascensionados são os novos santos e ministros de deus e por aí vai.

Se ficarmos presos aos conceitos estereotipados nascidos durante esta era de dominação vai sempre nos escapar o sentido profundo dos caminhos que estamos estudando. Creio que isto é um fato muito importante, temos que ir além da sintaxe imposta pelo mundo atual, isto não é fácil, nem simples, mas pode ser feito.


A prior prisão das muitas que nos deram neste mundo, é a perceptiva, sermos obrigados a concordar e participar de um só tipo de realidade, com variações de interpretaçòes subjetivas, mas normatizada e linearizada em várias estâncias.


Então questionar profundamente os pretensos dogmas, mesmo dos esoterismos de plantão é não só um hábito saudável como necessário, questionar, questionar tudo e buscar uma nova resposta.


O que eu tenho percebido até aqui é que o Xamanismo, a Magia e a Bruxaria não te dão respostas prontas, te ensinam a fazer melhores perguntas.

Xamanismo Urbano é um ramo contemporâneo da ancestral árvore do Xamanismo.

Xamanismo é o conhecimento dos povos ancestrais, ao contrário de cultos de povos que já foram completamente exterminados, assim só podemos estudá-los indiretamente, o xamanismo ainda tem linhagens vivas em todos os continentes, que vem transmitindo o conhecimento de boca para ouvido desde antes da aurora do tempo e o faz ainda hoje. O Xamanismo nesse sentido é um conhecimento vivo, que tem uma energia de transmissão.

Nas tradições isto é algo muito interessante de ser avaliado. Existem tradições que foram geradas dentro desse tempo-espaço, assim tem a energia deste tempo e espaço. Outras tradições vem de antes do tempo, trazem consigo uma energia de fora , um algo diferente que não pertence a esta realidade.

É este poder, esta baraka , esta graça que uma TRADIÇÃO transmite a quem nela se inicia. Uma energia que não é desta realidade, vem de antes, de tudo que temos por realidade surgir. O Xamanismo, embora este termo hoje seja usado também por pessoas que copiam a forma mas pouco entendem do conteúdo, é um caminho que sempre propõe um estado de viver que é bem mais que o sobreviver ao qual estamos expostos.

É natural que o Xamanismo sempre busque se adaptar ao tempo e ao lugar onde está, mas esse se adaptar não é abandonar sua essência, não é adulterar-se, não é fantasiar-se ou travestir-se.





Todo Caminho está sempre em sincronia com o aqui e agora no qual está.



Isto a meu ver caracteriza um caminho profundo, ele flui pelo tempo e espaço com naturalidade, leva a essência do conhecimento, não a forma, assim xamãs hoje podem estar bem mais de terno e gravata que com penas e cocares, sem que isto lhes faça menos unos à Fonte de onde tudo nos vem.

O Xamanismo tem formas inteligentes, estratégicas e mágicas de nos permitir viver nas cidades de forma mais harmônica e sofrendo menos os efeitos nefastos que a vida urbana está sempre a inflingir sobre nossos organismos.

Ondas de celular, de rádio, TV, alimentos sem energia vital, com verdadeiros venenos e substâncias agressoras em sua composição, fumaça, barulho, tudo isto a cidade nos oferece. A violência urbana, a neurose das pessoas, as atmosferas psiquícas desequilibradas que a maior parte dos lugares urbanos insiste em desenvolver, tudo isso é uma agressão a nosso bem estar.

A vida em prédios, num espaço como de um prédio quantas familias e pessoas vivem? Auras se interpenetrando, energias se misturando...

A tudo isso a cidade nos expõe, mas não nos ensinaram a lidar com tais desafios de forma satisfatória, o consumo de remédios e drogas (drogas desde álcool e religiões fanáticas até coisas pesadas mesmo), a infelicidade das pessoas, doenças constantes, a violência, são sinais desta falência geral do sistema social que ai está.

A questão é mais profunda.


Nós mesmos, tidos civilizados, o somos, enquanto espécie há tão pouco tempo. Essa vida de cativeiro nos é recente em termos de espécie, nossa células carregam em si uma saudade imensa, ainda, de tempos em que os ritmos do sol e da lua lhes eram mais fortes que a imposição de um escravizador moderno chamado relógio.

Nossa ancestralidade selvagem é muito mais ampla e forte que os poucos milhares de anos transitando para esta sociedade que como nós, ninguém conheceu: artificial, programada, dominada de tal forma que os povos livres nem em seus medos mais profundos imaginaram.

Como explicamos à essas forças ancestrais e selvagens que gritam em cada célula nossa que devem ser "boazinhas, educadas e cordatas?" Como explicar aos tambores que batem em nosso peito que devem se calar?

Como explicar ao grito selvagem que queremos emitir que deve continuar ali, preso?

Como explicar a sensualidade que visceja de tempos em tempos como suor em nossos poros, que deve ser reprimida?

Negamos nossa selvageria, nós que nascemos em cidades. Filhos e filhas dos conquistadores, é bom que não nos esqueçamos que somos isso, os filhos(as) dos conquistadores, dos que vieram para cá e de forma direta ou indireta colaboraram para o genocídio quase completo das populações nativas.

Como você agora, colabora de forma direta ou indireta para a continuidade desse genocídio, que ocorre enquanto escrevo, estará ocorrendo quando estiver lendo este artigo. Por ação ou omissão continuamos cúmplices.

O Xamanismo é um caminho Selvagem, tentar transformar o Xamanismo nestas bobeiras insossas de " disco do animal de poder"; querer gerar um "xamanismo new age" como tantos fazem e outras coisas que a gente vê por aí é mais apenas continuar com a farsa que o sistema tem lançado sobre tudo ligado a esta tradição, oriunda de povos nativos sobre os quais sabemos muito, muito pouco em termos de ciência oficial.

Pois não apenas ao genocídio condenaram a esses povos, como sua memória foi apagada da história oficial, ignorados em suas sofisticadas civilizações.

O xamanismo foi mantido e desenvolvido por povos nativos de vários continentes, mas não começa neles, vem de antes, vem dos véus além da aurora dos tempos. Isto é fundamental ficar claro para irmos as reais origens do Xamanismo, os povos nativos são guardiães do Xamanismo, não seus geradores, como uma escola de música não inventa a música, apenas aprimora e acumula técnicas e formas de ajudar novos artistas a desabrocharem cada vez com mais amplitude.

Isto é o mais importante, entender que o xamanismo não é um conhecimento humano, é um conhecimento de outras esferas que foi "capturado" quando a raça humana começou e veio se desenvolvendo, como está agora. Não é uma verdade pronta, não tem dogmas, é um campo de estudo, em aberto, onde cada praticante é desafiado a provar por si e em si o que está estudando, estudo aqui é sinônimo de prática. O xamanismo surge em outra civilização que já existiu neste planeta, que se foi, que deixou seu saber que continuou sendo "cultivado" por gerações e gerações de praticantes, até chegar a este tempo e espaço no qual estamos.

Quando olhamos para o passado os estudos científicos vão nos dizer que a Terra era do mesmo tamanho, mas isto é falso, a Terra era muito maior.

Existiam mais lugares para se ir na Terra do que há hoje, e os lugares não estavam sempre nas mesmas "coordenadas". Existem muitos lugares que existiam e "foram embora da Terra". Demorou muito para prenderem o mundo nessa descrição que temos hoje por "real", o mundo já foi muito mais desconhecido, ainda o é em certos lugares e em certos momentos, embora o paradigma geral da "mentalidade" dominante negar isso.

Essa fantastica homogeinizaçào perceptiva que vivemos nesta idade globalizada é em si uma magia interessante e espantosa, mas realizada e a serviço do interesse dos neo-senhores feudais, dos neo-senhores da guerra, das neo-companhias das índias ocidentais e orientais e dos neo-clero a que temos em nossa época que continuam fazendo o que sempre fizeram, dividir o mundo entre si, provocar discórdias e acirrar disputas para obter benefício desta divisão entre povos, buscar mercados consumidores, fornecedores de matéria prima, transformar tudo que possível em coisa a ser vendida e converter, limitar a percepção humana a seus estreitos padrões. É importante notar como isso mudou, hoje os jesuítas não são mais os campeões em obrigar outros a se converterem a seus paradigmas, a CIA tem tido muito mais sucesso .

Mas os fatos bases continuam e o Xamanismo observa tudo isso acontecendo com espanto, pois partilha da pergunta dos povos nativos:

"Por que os ventos que regem os destinos humanos colocaram no poder um povo como o homem branco? Que não ama a Terra? Nem seus ancestrais ? Nem a seu irmão, irmã, pai, mãe? Que trai seus amigos? Que não respeita suas crianças? Que condena todos nós, humanos, animais e vegetais a um fim cada vez mais evidente e próximo?

Nós xamãs-curandeiros há muito temos como fato que a Terra está doente. Muito doente, praticamente em coma. Os absurdos e desmesurados atos da era industrial geraram uma doença profunda no Ser Terra. Por isso, encontros no mundo inteiro tem objetivado gerar energias de cura, para que o Ser Terra se recupere, sabemos que se Ele se recuperar vamos conseguir ter uma mudança real no estado de consciência coletivo.

Os povos nativos celebravam a vida e os ciclos da natureza em seus cultos, não eram cultos de adoração apenas, eram cultos de "sintonização".

Os cultos "exotéricos" das religiões que foram dominando o mundo cada vez mais destruiram esse elo do Ser humano com a Terra, passaram a cultuar egrégoras, imagens de um deus distante, fora da Terra, julgando, punindo ou "agraciando" o ser humano segundo misteriosos caprichos, mas sempre necesssitando de ser "adorado" , "temido" , "idolatrado", assim tivemos a quebra do elo do ser humano com a Terra e com o Sol, fontes reais de vida, seres realmente vivos, fontes reais da nossa vida, para nos ligarmos a abstrações mentais de deuses feitos a imagem e semelhança dos medos e caprichos humanos.

Notem, nos cultos que surgiram, o ser humano deixa de se harmonizar com as forças do Sol, da Terra e dos Astros e outras forças cósmicas que os festivais e ritos dos ancestrais realizavam e passa a adorar uma representação abstrata de um pretenso principio único de um pretenso deus único e verdadeiro que torna toda pessoa que chame a divindade por outro nome, "infiel" .

Essa passagem do contato direto com a VIDA com a NATUREZA, para uma religiosidade de adoração a "imagens" e "representações" é tida por "evolução", passagem do "primitivo e pagão politeísmo" para o avançado, progressista e evoluído " monoteísmo".

E o que fizeram esses Deuses, cada um se dizendo "único e maior", desde que começaram a ser adorados Serviram de desculpa pra toda guerra que houve desde então, até hoje, basta ligar a TV e ver esses deuses brigando, até versão 1 e versão 2 do mesmo deus (como no caso de cristãos e protestantes na Irlanda).

Sentir a Vida como Divina, logo a natureza como divina, viva e consciente é algo fundamental ao caminho xamânico. Nas cidades isto é mais difícil, por isto é mais fácil ser praticante dessas abordagens mais racionais e menos sensíveis da realidade, da religiosidade. Na cidade, com supermercados, açougues e feiras pode-se esquecer que tudo aquilo, alimento, ainda vem da Terra, depende do Sol, da chuva, dos ventos, pássaros e insetos polinizadores, do ciclo correto das estações. Assim os natais de presentes e páscoa de ovos de chocolate são celebrações mais importantes que a primavera que volta com a vida ou o momento da colheita. Para nós do xamanismo é claro que a vida tem seus ciclos, suas formas de se manifestar, isto celebramos, com estes ciclos nos sintonizamos. Na Terra e no Sol temos as forças fundamentais a Vida, sem elas nada existiria, e este poder só está ali, nenhum ser ou espectros de outras dimensões que tantas vezes atribuímos mais valor que a força viva da natureza a nossa volta, pode nos sustentar enquanto "seres vivos e conscientes".

A magia telúrica, a Bruxaria telúrica são parceiras do xamanismo nesta abordagem. Nosso corpo lê a energia das estrelas, metaboliza mesmo tal energia, mas nossos pés precisam estar no chão e temos de estar bem alimentados e saudáveis para interpretarmos corretamente o que tais forças nos mostram.

O Sol é nossa fonte de vida, mais forte que qualquer rito, que qualquer símbolo mágico, que qualquer eucaristia, lá está ele, Sol, fonte da Vida, sem o qual nada aqui existiria e mesmo que nos destruamos nessa loucura de guerras com fundo econômico que estamos gerando, ainda assim continuará lá, iluminando o céu de um planeta desolado porque os conquistadores tomaram o mundo e impuseram seu modo de ser.

O Xamanismo urbano é uma resposta.


Uma resposta da ancestral Arte do Xamanismo aos desafios que este momento está nos trazendo. Pois agora estamos no tempo em que ou nitidamente vivemos a história, como participantes atuantes, ou só nos resta "sofrer a história".

Agora, mais que nunca, precisamos de caminhos que nos ensinem a usar nossa mais profunda e poderosa magia, pois loucos dominam o mundo, esses loucos tem armas poderosas e respeito algum a vida, apenas sua insanidade e frustração existencial como guias.

Como nas antigas lendas nativas, temos de ousar sair na jornada mágica da busca de meios de nos protegermos desses loucos, para que a vida ainda seja possível a nós e nossa descendência.

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