sexta-feira, 15 de maio de 2009

Magia, xamanismo e bruxaria - Caminhos Naturais (parte IV)

Comentei em artigo anterior que o conceito de Divindade para o Xamanismo, a Bruxaria e a Magia Telúrica que estamos estudando aqui é completamente diferente do conceito comum que se tem da divindade, mesmo nos ramos tidos por esotéricos. Para nós, a Existência, emana da inexistência, emana, não "é criada", mas emana o que implica em toda uma abordagem fenomenológica distinta daquela que vem de um "deus criador" .


Se tudo emana, emanamos também e temos assim elos profundos com tudo mais que foi emanado, outra abordagem, ao invés de criaturas diversas, seccionadas e a parte, somos uma teia de eventos inter-relacionados.


Para nós xamãs, bruxos e magistas telúricos somos todos (as) parte da ETernidade, não "criaturas", e sendo partes somos igualmente misteriosos, complexos e assim da formiga à estrela, somos todos (as) complexidades existenciais distintas. Dessa forma toda vida passa ser sagrada, toda manifestação da vida é sagrada e o fato da atual civilização dominante ter rompido esse pacto com a vida, com a criação de uma civilização dominadora, belicista, degradadora do meio é um alerta que algo vai muito errado com a humanidade, que pode estar em perigosa rota de extinção planetária.

Para nós, nestes caminhos, a vida e a consciência são mistérios supremos e impregnam várias estâncias da realidade que nos circundam.


Não há vida "superior" ou vida " inferior" há "VIDA" , tão pouco consideramos o ser humano mais consciente que os animais, são diferentes , mas não superiores ou inferiores, lógico que para os paradigmas dominantes isso não é aceito, o próprio esoterismo do senso comum vai contra isso colocando que a "pedra evolui em planta, a planta em animal e o animal em humano". Negamos isso aqui, cada momento da vida e da consciência é completo em si.


Hoje se começa a questionar esses conceitos neo-darwinistas de evolução que o esoterismo do senso comum se impregnou no século XIX principalmente, (pois no século XX pouca coisa nova foi gerada neste campo, muito se copiou, mas poucos geraram pelo menos consultas a fontes mais sólidas).


Principalmente o espiritismo e a teosofia usaram muito desses paradigmas, dessa "evolução espiritual" pela linha do tempo, mas isto hoje é questionado até mesmo em termos de física quântica quando vamos perceber que são ilusórias as idéias de passado e futuro que temos, fruto do senso comum e não fatos experimentais.


O xamanismo, a magia e a bruxaria telúrica enquanto caminhos nunca entraram por estas veredas, mantiveram sempre uma abordagem bem própria da realidade, que agora, com novos instrumentais cognitivos, começam a fazer sentido mesmo para quem não é iniciado nestes campos.





Tais elaborações racionais muito específicas tem seu apelo, é verdade, mas isso parece ter tanto valor porque manifestamos tais elaborações neste contexto alienante e alienado que chamamos de realidade, um estado de ser artificial e convencionado.

O ser humano se arroga direitos que ninguém lhe deu. Para os (as) xamãs, bruxos (as) e magistas a realidade é composta da somatória de suas partes, assim cada ente vivo neste planeta e no universo como um todo tem seu papel.


Discutir superioridades de papéis é como declarar que células de um órgão são mais importantes que de outros.


Cada ser vivo enquanto espécie está seguindo complexo caminho existencial, onde representa um papel que só quem é "irmanado" a tais linhagens pode mesmo entender que não é racionalizar, mas sentir.


Quando os golfinhos mergulham e ficam longo tempo desaparecidos da vista humana, quando as baleias entram em seu transe com seus mântricos cantos, sabemos mesmo o que estão fazendo?


Que tessituras de poder estão tecendo?


Que mundos visitam?


Nos tempos ancestrais as manadas de elefantes caminhavam em longas jornadas para ir acompanhar os seus anciões na última viagem, viagem até o lugar onde estes mágicos e poderosos seres haviam, por gerações, escolhido morrer.


Os famosos cemitérios de elefantes, lugares sagrados, onde o poder de gerações desses seres esteve contido, de repente se determinou que tais lugares deveriam ser explorados, porque quem, em juízo e lucidez, vai dar valor a histórias bobas de nativos supersticiosos que grandes desequilíbrios viriam ao mundo se tais lugares fossem profanados?


Todo povo ancestral tinha áreas que declarava: "não é área para humanos". Montanhas, cavernas, locais em deserto ou florestas, áreas sagradas onde a presença humana não devia ocorrer.


Quem respeita isso hoje?


Lidar com Xamanismo, Magia e Bruxaria é muito mais complexo que brincar com alguns símbolos, algumas vestimentas, decorar meia dúzia de termos em alguma língua antiga , induzir transe por alguma prática repetitiva e chamar o agito da luz astral, o deslocamento superficial da consciência de "transe".


Tais Artes vem de um tempo em que a forma de existir e ser era outra e assim tudo era diferente.


Implica em reconectar outra abordagem da realidade, muito, muito distante da hoje dominante.


É preciso uma profunda abertura de nossa percepção para irmos além dos limites conceituais nos quais esta civilização nos prende e realmente mergulharmos nos paradigmas oriundos de uma civilização onde ser humano, plantas, animais e entes de outras esferas viviam em contato íntimo entre si.

Dando seqüência a nossa abordagem desses temas hoje vamos falar sobre como estes caminhos abordam a VIDA. Sempre lembrando que os termos Magia, Xamanismo e Bruxaria são vastos e tem muitas linhagens que os usam, estamos falando aqui de um tipo específico de Magia, Xamanismo e Bruxaria. Para estes caminhos que estamos estudando, a Vida é sagrada, assim não existe aqui a idéia que o "corpo" é "prisão" do espírito, muito menos que este mundo é um mundo de "provação" , com isto fica também fora o tema do "pecado", da "culpa".

Viver é sagrado, estar vivo é sacro, cada momento é divino, assim não temos um plano "espiritual", "superior", e um plano "carnal", "material", "inferior", para nós estas são divisões falsas que falseiam o que tocam.

Vivemos numa vastidão de muitas dimensões, como uma cebola, vivemos numa realidade de muitas camadas, mas cada camada tem suas próprias características, assim não temos "planos superiores" e "planos inferiores", temos planos de realidade, temos energia.

Para tais caminhos a Vida é uma aventura incrível, misteriosa, a ser celebrada a cada instante, tudo que está a nossa volta é prá ser usufruído, com equilíbrio, com bom senso, com o foco que tudo é VIDA e não coisas, assim sendo a postura perante a Vida e a Existência da Magia, do Xamanismo e da Bruxaria é completamente diferente de grande parte dos esoterismos (esquisoterismos) que estão por aí e que pregam a "superação" desse mundo, que tem por meta ir para algum plano "espiritual".

A forma de sentir e estar no mundo do Xamanismo, da Bruxaria e da Magia já foi a forma das pessoas em geral, quando a vida era celebrada, quando cada lugar da natureza era vivo e sagrado, as montanhas, os rios, as cachoeiras, os animais, mas este modo de ser uno(a) com o mundo foi se perdendo, primeiro pelas religiões que criaram deuses fora desta realidade, deuses fora da natureza, acima dela, desconectados dela, deuses julgadores, deuses aos quais se implora, aos quais se suborna através de seus sacerdotes.

A revolução industrial que terminou de "coisificar" tudo e todos, dentro de uma perspectiva da Bruxaria, da Magia e do Xamanismo nunca teria ocorrido como ocorreu, levando o mundo a esse caos ecológico no qual estamos.

Isto é muito interessante de abordar, a "ciência" resultante da Bruxaria , da Magia e do Xamanismo é uma ciência branda, ecológica e ao mesmo tempo com possibilidades muito mais amplas que a ciência pesada, agressiva e coisificadora que a civilização industrial desenvolveu.

A Ciência oficial criou o mito que ela é a única forma de investigar a realidade. Ledo engano, sempre existiram outros caminhos.

Precisamos lembrar que a alquimia não é a avó caduca da química, a astrologia não é a tia avó esquizofrênica da Astronomia.

São "ciências mãe", abordagens complexas e completas da natureza a partir de outros pontos de validação, de outras realidades perceptivas.

Os astrônomos ficam insistindo que a "gravidade" de tal ou qual planeta não apresenta efeitos significativos para isso ou aquilo, mas quem tá falando de gravidade?

A ciência oficial tem essa arrogância, quer limitar tudo aos seus paradigmas, como tenta fazer com a acupuntura. O fato da acupuntura funcionar leva cientistas a elaborarem teorias das mais forçadas, quando não precisa nada disso, a acupuntura já tem suas explicações, geradas há milhares de anos.

A Astrologia tem outra leitura, está lendo outro nível de energia que os planetas emanam, que resultam em efeitos reais, embora o instrumental da astronomia não possa captar tais energias.

A Alquimia foi muito deturpada, especialmente pela idéia do ouro, que muitos ocultistas, como São Germano , Cagliostro e outros fizeram veicular para justificar o soldo em ouro que recebiam como agentes de coroas e governos para espionar outros. Quem estuda alquimia sabe que o Ferro é o elemento chave e que o tal "gerar ouro" é quando muito um simbolismo para o trabalho interior, não que não seja possível gerar ouro, não é isto, mas esta não é a meta da Alquimia. Isto deturpou a alquimia que é complexa ciência mãe, só agora com a quântica a mente civilizada se encontra em condições de "começar" a compreender tal complexa ciência.

Portanto as tradições dos povos têm sua abordagem e seu valor e não são "antepassadas pueris" que agora foram explicadas e superadas pela "evoluída" ciência contemporânea.

Temos que prestar bastante atenção nisso, existem ramos do Xamanismo, da Magia e da Bruxaria que realmente emanam da aurora dos tempos, que têm sido transmitidos de boca para ouvido e aí estão, como tradições vivas que podem nos auxiliar no desafio da Vida, do estar vivo e do descobrir a nós mesmos.

Mas existem ramos da Magia, do Xamanismo e da Bruxaria que foram "adaptados" por pessoas que fizeram leituras superficiais do tema, que não foram de fato iniciadas, que apenas se aproximaram do tema, imitaram a forma sem entender o conteúdo. Há ramos da Magia, Xamanismo e Bruxaria que se pretendem ancestrais mas pela sintaxe das colocações, pela forma que o conhecimento é apresentado a gente logo vê que é uma leitura de pessoas desta época de coisas que "ouviram" ou "pegaram pedaços".

Por isso estudar tais campos é compreender que são Caminhos e existe uma diferença entre estudar um caminho e trilhar um caminho. Trilhar um caminho é ser cada vez mais uno com ele, por isso a Magia, a Bruxaria, o Xamanismo provocam mudanças profundas, pois nos tornam outras pessoas, nos dão acesso a outras realidades.

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