sábado, 23 de abril de 2011

Na irradiação de Ogum

Os atributos dos Orixás representam as maiores qualidades que se espera que um Ser Humano alcance após muitas dificuldades. Representam o ideal desejado do que conseguimos compreender de Perfeição.
Também cada Orixá contém em seu arquétipo, a representação das Forças da Natureza que nos cercam, de modo que o(a) umbandista acaba vivendo 24 horas no entendimento das ações e reações derivadas destas forças e dos seus prórpios atos. Sem que se torne fanático, ele(a) vai aprendendo a caminhar pela Terra dentro de uma compreensão especial, fruto do conhecimento da atuação destas Forças sobre si. É uma forma entre muitas, de auto-conhecimento e conhecimento do Planeta onde habita e interage.
Quando pensamos em emanação das Forças da Natureza, devemos observar que a mesma vem sendo relatada desde o início dos tempos. Quando o homem descobriu o fogo, ele começou a adorá-lo como Força Mágica, um deus. O mesmo ocorria com os raios, as enchentes, os eclipses.No Egito, nos segredos dos templos, os mistérios remontavam ao Poder do Fogo, dos Metais, do Ar e da Água, movidos, junto ao desenvolvimento do poder mental, mas muitas vezes, ao longo dos séculos, foram envenenados pela violência e barbárie dos rituais.
Da bela Grécia chega até nós a Mitologia com a personificação destas Forças Mágicas, do Poder do Mar ( Poseidon), das Matas (Demeter), do Fogo (Hefesto), do Ar (Hermes), e o Poder Supremo (Zeus), entre outros.
Na Mitologia Nórdica, há Odim, o deus Supremo, Thor, senhor da Lei com seu machado (Xangô); Freija, deusa do amor (Oxum), Heimdall com características parecidas com Oxóssi, Loki se identifica com Exu, e Ogum e Odim com muitas emanações semelhantes. Estes pensamentos se coadunam com os de Rubens Saraceni no livro “Gênese Divina da Umbanda Sagrada”, embora anteriores à sua leitura, mas esta coincidência vem de encontro á uma reflexão que a Verdade sempre aparece, mesmo se caminhos diversos são trilhados.
E da antiquíssima África, onde sabemos que foram encontrados os resquícios dos primeiros da raça humana, cita o autor Omolubá,em seu livro – “Orixás- os Mitos e a Religião na Vida Contemporânea” – que o conhecimento que nos vêm sobre Ogum, vem da tradição africana Yorubá., onde em tempos muito, muito antigos, o retrato da entidade pujante, esbelta, destemida, valente e belicosa por natureza. Ligado ao ofício da guerra, no seu lazer voltado à caça. E em qualquer tempo, artesão primoroso de armas, ligado aos metais.
Além disso considerado um exímio cavaleiro, vencedor de demandas, manipulando encantamentos e sortilégios,é o vencedor do Rito e da Magia.
Na evolução do mundo, Ogum inspirou a descoberta da forja, bigorna, martelo, enxada, faca, torquês, espada, facão e lança, além das couraças protetoras.
Conta a lenda, segundo Omolubá, que “quando na matinata surgem os primeiros raios de sol,. vê-se em todas as direções e horizontes da Terra, a magnífica, telúrica e resplandescente imagem de Ogum montado em seu fogoso corcel, a insuflar muita coragem e muito ânimo para a batalha do dia-a-dia, pois o que importa é seguir sempre em frente e vencer!”
A energia de Ogum é emanada do astral até nós do plano encarnado, e sentida por seus seguidores, infundindo-lhes grande otimismo., entusiasmo, esperança, firmeza e alegria. Ogum favorece a ordem e disciplina nos relacionamentos, seja na família, trabalho e/ou vida social. Esta ordem também chega aos pensamentos e sentimentos, de maneira que aquele sob sua vibração, consegue seguir uma vida reta e digna.
Não se deve associar Ogum à violência, quando se fala que ele rege a guerra. Pois no plano espiritual, a guerra mais difícil a ser conquistada, é aquela sobre si mesmo, contra as más tendências, contra o orgulho, prepotência, soberba, ganância, falsidade, egocentrismo, apego, ignorância e medo. Ele ensina o autoconhecimento, de modo que se possa viver plenamente e sem máscaras, ultrapassando todos os conflitos, mantendo sua crença e sua verdade, sem humilhar e sem sofrer.
Ogum pode ser severo, até violento com seus filhos, mas Ogum é o cavaleiro do Amor, fazendo os mesmos superarem suas fraquezas, ceifando dúvidas, pendengas e inseguranças. Ogum é sentimento vibrante, não fogo da paixão que se apaga e se transforma em cinzas, mas o Fogo Renovador que tempera as almas e as faz inquebrantáveis, e cada um deveria buscar este conhecimento como quem busca a Pedra Filosofal dos antigos alquimistas.
Entretanto, enquanto os filhos de Ogum não manifestam a plenitude de sua influência benéfica, quando em desequilíbrio, demonstram indisciplina, arrogância, ciúmes exagerados, teimosia, egocentrismo, violência. Sofrem muito, até compreenderem como deve ser sua conduta correta.
No livro “Gênese Divina da Umbanda Sagrada” , de Rubem Saraceni cita:


“ Ogum é sinônimo de Luz Maior, Ordenação Divina e retidão em todos os sentidos.
Ogum é a Ordenação Divina em si mesmo: ele ordena a Fé, o Amor, o Conhecimento, a Justiça, a Evolução ea Criação. Por isso está em todas as outras qualidades divinas.
Ogum é a força que ordena tudo e todos, e tanto está presente na estrutura de um átomo como em qulquer parte do Universo.”

Orixá não é divindade, pois na Umbanda cremos num único Deus. A Umbanda não é politeísta, portanto, Orixá é potência de Luz emanada de Deus, que chamamos de Zambi. Portanto, Ogum não é um deus, mas uma manifestação Divina, que ordena e abre todos os caminhos. É impressionante a Força de transmutação que pode exercer.

A realidade de cada um é única, mas pode e influencia de fato os que estão ao redor. Esta força modificadora e mágica, que faz mover, que tira de um estado inerte para a ação, forçando a roda da vida a nova rotação, enriquece com novas experiências, novas oportunidades, novas portas e janelas em outros cenários, capacitando os viajores, usando a vestimenta carnal para obter novas respostas, atingir novos patamares, superar velhas quizilas e enfrentar e desmanchar qualquer demanda. Este, é Ogum.
Ogum é muito querido e cultuado no Brasil. Neste nosso pais, perdeu, todavia, os atributos de protetor da agricultura e da caça, que passaram a ser identificados exclusivamente com Oxóssi, e tornou-se conhecido sobretudo como Senhor da guerra, sendo sincretizado na Bahia com Santo Antônio de Pádua e nos outros Estados, especialmente o Rio de Janeiro, com São Jorge.
Existe uma passagem da história do Brasil onde se denota a grande fé a Ogum como Senhor da guerra. Cabe lembrar que os negros constituíam maioria entre os soldados e marinheiros que lutaram na Guerra do Paraguai. As tropas jamais deixaram de invocar a proteção de Ogum, seja diretamente ao orixá, seja na forma de São Jorge, o que talvez explique algumas expressões presentes nos pontos cantados, como Ogum jurou bandeira nos campos do Humaitá. A hipótese se torna ainda mais forte quando lembramos que Humaitá é o nome de uma localidade onde ocorreu uma das mais importantes batalhas daquela guerra, sendo ao mesmo tempo o nome atribuído à região do mundo invisível – o orum – que se acredita seja a morada de Ogum.
Temos no mes de abril , exatamente no dia 23, as homenagens ao Orixá Ogum. Os falangeiros de Ogum são:
• Ogum Beira-Mar
• Ogum Megê
• Ogum Sete Ondas
• Ogum Sete Espadas
• Ogum Iara
• Ogum Matinata
• Ogum Rompe-Mato
Estas falanges possuem plêiades de espíritos evoluídos e em diversos estados de evolução, que estão representados pelos caboclos de pena, pelos caboclos de couro ou boiadeiros, pelos pretos velhos, crianças e exus.
E alguns ainda consideram Ogum como a 4ª linha dentro da Umbanda,com as seguintes Legiões:
Ogum de Lei - traz consigo a vibração pura de Ogum e trabalha para todo o planeta. É a própria Lei regendo os reajustes cármicos. Suas oferendas podem ser feitas em qualquer lugar do mundo, acrescida de uma vela oferecida ao tempo.

Ogum Beira-Mar
- aliada ao Povo do Mar. Na areia do mar é conhecido como Beira-Mar e nas ondas é Ogum Sete Ondas. Suas cores são vermelha e branca. Atua na ronda da Calunga Grande (mar, oceano) e no reino de lemanjá. As oferendas são feitas na areia molhada, sobre um pano branco com bordas vermelhas.

Ogum Megê
– conexão com o Povo Megê (africanos). Sua falange trabalha na Calunga Pequena (cemitério), na calçada que o cerca, diretamente com as almas. Suas cores são branca e vermelha e suas oferendas devem ser feitas em volta do cemitério.

Ogum Naruê
– trabalha basicamente no des¬manche da magia negra, dentro da Linha das Almas, exercendo seu domínio sobre as almas quimbandeiras. Suas cores são branca e vermelha e aceita suas oferendas dentro do cemitério ou na mata, em locais consagrados para esses rituais.

Ogum Matinata
- defende os campos onde são feitas as oferendas para Oxalá, bastante comuns em colinas floridas. Não há muitos médiuns que conseguem tê-lo como Guia, pois é bastante difícil de incor¬porar. Suas cores são branca e vermelha, predominando mais o branco. Suas oferendas devem ser entregues em campos com muitas flores. Apesar de guardar as oferendas de Oxalá, não vibra diretamente com o mesmo.

Ogum Iara
– Povo dos Rios. Esta é a falange que trabalha nos rios, lagos e cachoeiras, grande colaborador de Oxum. Suas cores são branca e vermelha e também, algumas vezes, verde e vermelho, simbolizando a mata. Suas oferendas devem ser feitas em rios, lagos e cachoeiras.

Ogum Rompe Mato
- ligado a Oxóssi e ao Povo das Matas. Esta falange costuma trabalhar cruzada com Oxossi, nas matas e nas pedreiras, onde também é conhecido como Ogum das Pedreiras, trabalhando cruzado com Xangô. Suas cores são branca e vermelha, algumas vezes verde e vermelho, combinando com o branco. As oferendas para Ogum Rompe-Mato devem ser feitas na entrada da mata; Ogum das Pedreiras recebe suas oferendas em volta de uma pedreira.

Ogum Nagô
– Junto ao Povo de ganga ( nagô)

Ogum Malei
– Da linha Malei ( Povo de Exu)
No livro “ Umbanda de todos nós”, Matta e Silva relata que a Linha de Ogum apresenta 42 Orixás Chefes de Falange, como intermediários para as demais Linhas, um pouco diferente do acima descrito, mas que vale a pena estudar e desenvolver o pensamento e fazer comparações, até chegar a um entendimento comum. São eles:
a- Ogum de Lei;
b- as entidades com nome de Ogum Yara, intermediárias para a Linha de Yemanjá;
c- as entidades com nome de Ogum Megê, intermediárias para a linha de Yori;
d – as entidades que tomam o nome de Ogum Rompe Mato, intermediárias para a Linha Oxóssi;
e- as entidades que tomam o nome de Ogum de Malê, intermediários parra Yorimá
f- as entidade que tomam o nome de Ogum Beira-Mar, intermediários de Xangõ
g- as entidades que tomam o nome de Ogum Matinata, que são intemediários parta a Linhade Oxalá.
Senhor dos limites, sempre está na frente abrindo a passagem para os demais Orixás. Razão esta que se explica nos rituais de Umbanda sua saudação em primeiro lugar (entre os orixás, já que a primeira saudação deve ser a de Exu).
Ogum exerce um papel fundamental na Umbanda, comandando os Caboclos, os Exus e as Pombogiras, faz a guarda dos locais sagrados e dos médiuns de Umbanda. São eles que vão na frente para proteger e zelar pelas caravanas, pelo espíritos em missões de resgate e de trabalho.
Teremos Ogum no limite do mar e terra, do campo santo e do profano, na entrada da mata, na beira dos rios e cachoeiras, e assim por diante. Isso também explica a razão de Ogum estar relacionado às estradas, aos caminhos.
Sendo vencedor de demandas, sendo um Orixá próximo aos trabalhos de Exu, deve dominar e manipular a magia. Isso também dá a Ogum uma relação íntima com os elementais. O Senhor Exu Tranca Ruas é o correspondente negativo na Vibração Espiritual de Ogum. Há ainda uma classificação que se encontra na Apostila da Sociedade Mata Verde que é a seguinte:

Exu Sete Chaves
- intermediário para Ogum na Vibração Espiritual de Oxalá

Exu Nanguê
– intermediário para Ogum na Vibração Espiritual de Yemanjá

Exu Toquinho
– intermediário para Ogum na Vibração Espiritual de Ibeji

Exu Meia-Noite
– intermediário para Ogum na Vibração Espiritual de Xangô

Exu Pemba
- intermediário para Ogum na Vibração Espiritual de Oxossi

Exu do Lodo
- intermediário para Ogum na Vibração Espiritual deYorimá
Ogum vibra na Umbanda e na Quimbanda, lutando contra o Mal, e a linha de Ogum na Quimbanda chama-se Linha do Cemitério.
Para finalizar, gostaria de pontuar uma certa controvérsia, onde em muitos centros se divulga que o guia de Ogum incorporado em seu cavalo não gira. Discordo, pois frequentemente vejo Caboclos de Ogum girarem, descarregando o aparelho (cavalo) ou consulentes, ou na corrente . Sem querer de modo algum provocar polêmica deixo ainda alguns lindos pontos de Ogum que reforçam meu pensamento.


Falange do Caboclo Akuan
“Sêo Akuan é um caboclo guerreiro
Ele vem na falange de Ogum (bis)
Ele olha por todos os seus filhos,
Meu Pai (bis)
Ele não esquece nenhum ( bis)
Ele gira com o sol e com a lua
Ele gira com a terra e com o mar
Ele vem com sua falange, meu Pai
Pra firmar o seu jacutá (bis)”

Ogum Beira Rio

“Beira Rio, Beira Rio, Beira Mar
O que se ganha de Ogum
Só Ogum pode tirar ( bis)
Seu Ogum de Ronda
Ele vem girar
Vem trazendo folhas
Pra descarregar”

Saudação ao Seu Ogum de Ronda

“Quem está de ronda é São Jorge
Meu Pai me diz aonde é
Quem está de ronda é São Jorge
Salvai os filhos de fé
Quem está de ronda é São Jorge
Meu Pai me diz aonde é
Quem está de ronda é São Jorge
Jesus, Maria e José
Quem está de ronda é São Jorge
Deixa São Jorge rondar
São Jorge é guerreiro
Que manda na terra e manda no mar
Saravá meu Pai ( bis)
Girar é bom ( bis)
Girar é bom
É bom girar”

ALGUMAS INFORMAÇÕES SOBRE OGUM:
Dia da semana - terça-feira
Cor – Vermelha
Ervas - espada de São Jorge, folha de jabuticaba, tansagem, lança de Ogum, folha de mangueira, folha de aroeira, folha de salgueiro-chorão, pata-de-vaca, folha de mangueira, abre caminho, beldroega, carqueja, losna, língua-de-vaca, peregum (dracena com raios vermelhos). Folhas de coqueiro(mariô), casca de alho, casca de cebola, menta, mostarda, samambaia, mostarda, guiné, alcachofra, aspargo, arruda, jurubebam romã, comigo-ninguém-pode, porangaba, cravo branco/vermelho, folhas de coqueiro, azaléia.
Amaci – água de mina, guaco, arnica, funcho, hortelã, cravos vermelho/branco
Cor das Guias e Velas – vermelha, vermelha e branca
Saudação – OGUNHÊ!
Planeta Regente - Marte

Autor: Alex de Oxóssi (Rio Bonito – RJ)
http://www.povodearuanda.com.br/?p=7801

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